Fatores de risco e fatores de proteção para o câncer colorretal

FATORES DE RISCO

Síndromes hereditárias: vários distúrbios genéticos específicos estão associados a um risco muito alto de desenvolver câncer de cólon. As mais comuns são a polipose adenomatosa familiar (PAF) e a síndrome de Lynch (câncer colorretal hereditário sem polipose – HNPCC).

  • A polipose adenomatosa familiar (PAF) e suas variantes (síndrome de Gardner, síndrome de Turcot e polipose adenomatosa familiar atenuada) representam menos de 1% dos casos. Na PAF típica, ocorre o surgimento de grande quantidade de adenomas no cólon durante a infância. Os sintomas aparecem em média com 16 anos e o câncer de cólon ocorre em 90% dos indivíduos não tratados aos 45 anos).
  • A Síndrome de Lynch é uma síndrome autossômica dominante, mais comum que a PAF e responsável por aproximadamente 3% de todos os adenocarcinomas do cólon. Nestes pacientes, os tumores se desenvolvem em idade precoce com predominância de lesões do lado direito. A idade média no diagnóstico inicial do câncer é de aproximadamente 48 anos, com alguns pacientes apresentando diagnóstico próximo dos 20 anos de idade.

História pessoal ou familiar de câncer colorretal ou pólipos adenomatosos: Pacientes com histórico pessoal câncer ou de ressecção de pólipos adenomatosos do cólon correm risco de desenvolvimento futuro de câncer de cólon. Nos pacientes submetidos à ressecção de um único câncer de colón, um novo câncer primário se desenvolve em 1,5 a 3% dos pacientes nos primeiros cinco anos de pós-operatório.

  • Uma história pessoal de pólipos adenomatosos > 1 cm, pólipos com histologia vilosa ou tubulovilosa e com displasia de alto grau também aumenta o risco de câncer colorretal em 3,5 a 6,5 vezes nestes pacientes. Por outro lado, pacientes com poucos pólipos adenomatosos tubulares <1 cm não parecem apresentar um risco substancialmente aumentado para câncer.
  • A história familiar é um importante fator de risco, mesmo fora das síndromes com predisposição genética definida, ter um único parente afetado de primeiro grau (pai, irmão ou filho) com câncer colorretal, aumenta o risco aproximadamente duas vezes sobre o da população em geral. Os indivíduos que têm um parente de primeiro grau com histórico documentado de adenoma avançado devem ser rastreados de maneira semelhante àqueles com histórico familiar de câncer.

Doença inflamatória intestinal

  • Retocolite ulcerativa idiopática: Existe uma associação bem documentada entre a colite ulcerativa crônica e a neoplasia do cólon, sendo a extensão, a duração e a atividade da doença os principais determinantes. A pancolite confere um risco de 5 a 15 vezes maior em comparação com a incidência esperada na população em geral, enquanto a doença limitada ao lado esquerdo do cólon está associada a um risco três vezes maior.
  • Doença de Crohn: Embora haja muito menos dados, parece que a pancolite devido à doença de Crohn está associada a um risco relativo semelhante de malignidade do cólon que a colite ulcerativa extensa, embora os dados sejam menos consistentes.

Radiação abdominopélvica: os pacientes que receberam radioterapia abdominopélvica previamente têm um risco significativamente aumentado de neoplasias gastrointestinais subsequentes, sendo a maioria relacionado ao câncer colorretal. 

Fibrose cística: pacientes com fibrose cística têm um risco elevado de câncer colorretal.

Raça e gênero: pacientes de raça negra têm maiores taxas de câncer colorretal que outros grupos étnicos. A mortalidade é aproximadamente 20% maior, o câncer ocorre em idades mais jovens com uma maior frequência diagnóstico abaixo dos 50 anos. A mortalidade por CRC é aproximadamente 25% maior nos homens do que nas mulheres, e os adenomas do cólon e os CRCs parecem ter uma distribuição mais proximal nas mulheres, particularmente nas mulheres na pós-menopausa.

Acromegalia: a maioria dos relatos sugere que adenomas do cólon e CCR ocorrem com maior frequência na acromegalia, particularmente naqueles com doença não controlada.

Transplante renal: o uso de a imunossupressão a longo prazo, foi associado ao aumento do risco de câncer colorretal.

Obesidade: pode ser considerada um fator de risco para a CRC 

Diabetes mellitus e resistência à insulina: está associado a um risco elevado de CRC, onde estimou-se que o risco de câncer de cólon entre os diabéticos era aproximadamente 38% maior que os não-diabéticos e para câncer retal foi 20% maior. Além de aumentar o risco da doença, o diabetes também pode influenciar o prognóstico entre pacientes com CCR 

Carne vermelha e processada: embora os dados não sejam totalmente consistentes, o consumo a longo prazo de carne vermelha ou carnes processadas parece estar associado a um risco aumentado de CRC. O cozimento em alta temperatura (por exemplo, churrasco, fritura) foi implicado como fator de risco, talvez pela produção de hidrocarbonetos poliaromáticos e outros agentes cancerígenos a partir de proteínas no processo de carbonização. A carne vermelha magra pode estar associada a menos risco. No geral, embora possa haver um risco aumentado de desenvolver CRC associado à ingestão de carnes processadas, o risco absoluto é pequeno e ocorre apenas com o consumo diário, e não está claro que todos os indivíduos tenham o mesmo risco.

Cigarro: o tabagismo tem sido associado a maior incidência e mortalidade por câncer colorretal. Tanto para incidência quanto para mortalidade, a associação foi mais forte para o câncer do reto do que o cólon. O tabagismo também é um fator de risco para essencialmente todos os tipos de pólipos colônicos. Por essas e várias outras razões, o tabagismo deve ser evitado.

Álcool: Uma associação entre o consumo de álcool e um risco aumentado de câncer colorretal foi observada em vários estudos., uma análise dose-resposta encontrou um aumento significativo de 7% no risco de câncer colorretal, mesmo em bebedores leves (ingestão de 10 g/dia de etanol). O risco elevado pode estar relacionado à interferência da absorção de folato pelo álcool e à diminuição da ingestão de folato.

Terapia de privação de andrógenos: Uma revisão sugere que a terapia de privação de androgênio a longo prazo pode também aumentam o risco de câncer colorretal. Homens que receberam tratamento com agonista ou orquidectomia com hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH) apresentaram maior risco de desenvolver câncer colorretal, e o risco aumentou com a duração mais longa da terapia.

FATORES DE PROTEÇÃO

Atividade física: dados observacionais substanciais sugerem que a atividade física regular, no trabalho ou no lazer, está associada à proteção contra o câncer colorretal, com um risco reduzido de 27% de câncer de cólon proximal e de 26% para o câncer de cólon.

Dieta: muitos estudos epidemiológicos demostram uma associação entre a ingestão de uma dieta rica em frutas e vegetais e a proteção contra o câncer colorretal.

Fibras: não evidencias que demonstrando que uma dieta com fibras protege contra o desenvolvimento de câncer colorretal.

Ácido fólico e folato: o folato é a forma natural da vitamina que ocorre nos alimentos e o ácido fólico é a forma sintética usada nos suplementos alimentares. Dados de estudos em animais e humanos demonstraram que o folato inibe a patogênese do câncer em vários tecidos, incluindo o cólon.

Vitamina B6 (piridoxina): os dados disponíveis sugerem uma associação modesta entre uma maior ingestão de vitamina B6 e um menor risco de câncer colorretal. 

Cálcio e laticínios: Outro possível fator de proteção é o aumento da ingestão de cálcio. Uma ingestão total de cálcio (≥1400 versus <600 mg / dia) foi associada a um risco estatisticamente menor de câncer de cólon. A suplementação de cálcio tem sido recomendada para a prevenção primária ou secundária de adenomas do cólon pelo Colégio Americano de Gastroenterologia. Foi sugerido que os laticínios protejam contra o câncer colorretal devido ao seu alto teor de cálcio; no entanto, alguns produtos lácteos, como o queijo, têm um alto teor de gordura, o que pode contrabalançar o efeito protetor, possivelmente afetando a composição do ácido biliar no cólon. Estudos demonstram que as dietas com maior consumo de produtos lácteos estão associadas a uma redução significativa, porém modesta, do risco de câncer colorretal. 

Vitamina D: a vitamina D e seus metabólitos atuam como inibidores da progressão do câncer colorretal. Estudos revelaram uma forte ligação entre o baixo nível sanguíneo da vitamina D e um maior risco de muitos tipos de câncer, incluindo o câncer colorretal. Uma análise da Organização Mundial da Saúde identificou o câncer de cólon como o tipo de câncer com maior risco associado ao baixo concentração da vitamina D.

Alho: o consumo de alho tem sido associado a um risco reduzido de adenomas do cólon em alguns estudos observacionais de pacientes com câncer colorretal e em estudos laboratoriais. 

Consumo de peixe: o consumo de ácidos graxos ômega 3 (principalmente como óleo de peixe) foi associado a uma incidência reduzida de neoplasia colorretal em alguns estudos observacionais, mas os dados são conflitantes. Foi demonstrado que a ingestão de dois gramas diários de ácido eicosapentaenóico (EPA) como ácido graxo livre pode reduzir o número de adenomas em 22,4%, além de melhorar a carga global de pólipos, na polipose adenomatosa familiar (PAF).

Consumo de café: estudos encontraram evidências conflitantes sobre a relação entre consumo de café e risco de câncer colorretal. Postula-se que altas taxas de consumo de café estão associadas a um risco reduzido de câncer colorretal. 

Aspirina e AINEs: vários estudos sugerem que a aspirina e outros anti-inflamatórios não esteróides (AINEs) protegem contra o desenvolvimento de adenomas do cólon e câncer. O uso regular de aspirina e outros AINEs está associado a uma redução de 20 a 40% no risco de adenomas do cólon e de câncer colorretal. A dose mínima e a duração da aspirina para obter o efeito protetor ainda são incertas. Sugere-se o uso de 100 mg/dia de aspirina com revestimento entérico para todos os indivíduos, desde que não haja contra-indicação ao seu uso, como sintomas pépticos, hipertensão não controlada, insuficiência renal ou alergia à aspirina.

Terapia hormonal em mulheres: a terapia hormonal pós-menopáusica (combinada ou somente com estrogênio) foi associada a um risco reduzido de câncer colorretal. Também foi demonstrando um efeito protetor dos contraceptivos orais em mulheres na pré-menopausa.

Estatinas: Alguns dados observacionais sugerem que as estatinas estão associadas a um efeito protetor contra vários tipos de câncer, incluindo câncer de cólon, mas, no geral, os dados são conflitantes.

Antioxidantes: estudos controlados não encontraram evidências convincentes de que os suplementos antioxidantes tenham um efeito benéfico significativo na prevenção primária ou secundária de adenomas e câncer colorretal.

Dr. Edimar Leandro Toderke

Cirurgião Aparelho Digestivo

Graduação em Medicina pela Universidade Federal do Paraná (UFPR-PR). Residência Médica em Cirurgia Geral pelo Hospital Municipal de Ipanema / Rio de Janeiro – RJ. Residência em Cirurgia do Aparelho Digestivo pelo Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC-UFPR). Mestre em Clínica Cirúrgica pela Universidade Federal do Paraná (HC-UFPR).

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