A infecção pelo vírus do herpes simplex (HSV) no esôfago é geralmente observada em pacientes imunocomprometidos (quimioterapia, transplante ou infecção pelo HIV), mas ocasionalmente pode ser observada em pacientes imunocompetentes. A grande maioria das infecções está relacionada ao HSV tipo 1, embora o HSV-2 tenha sido ocasionalmente relatado. A esofagite por HSV pode resultar da reativação do HSV com disseminação do vírus para a mucosa esofágica por meio do nervo vago ou por extensão direta da infecção orofaríngea no esôfago.
Pacientes imunocomprometidos – a esofagite por HSV ocorre frequentemente em receptores de transplante de órgãos sólidos e medula óssea. O HSV é uma causa menos comum de esofagite em pacientes com infecção pelo HIV do que em receptores de transplante.
Pacientes imunocompetentes – A esofagite por HSV-1 foi descrita em pacientes saudáveis com idade média de 35 anos e predomínio entre homens. Normalmente relacionada a diminuição da imunidade momentânea (períodos pós operatórios, doenças concomitantes, etc).
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS – Os pacientes geralmente apresentam odinofagia e/ou disfagia, febre e dor retroesternal. Os pacientes podem ter herpes labial coexistente ou úlceras orofaríngeas. As complicações descritas incluem sangramento, desenvolvimento de fístula traqueoesofágica e impactação alimentar.
DIAGNÓSTICO – é baseado em achados endoscópicos confirmados pelo exame histopatológico das lesões observadas. Às vezes, achados sugestivos podem ser vistos durante a deglutição de bário. As lesões geralmente afetam a mucosa escamosa do esôfago distal, onde a manifestação mais precoce é uma vesícula, embora esse estágio inicial seja raramente observado na endoscopia. As lesões coalescem para formar úlceras (geralmente menores que 2 cm), intercaladas com mucosa de aparência normal. As úlceras são bem circunscritas e têm aparência “vulcânica”, distinguindo-as das úlceras observadas na infecção por citomegalovírus (CMV), que tendem a ser lineares ou longitudinais e mais profundas. Biópsias ou escovação devem ser realizadas na borda de uma úlcera, onde os efeitos citopáticos virais são mais prováveis de estarem presentes. Os achados histológicos incluem células gigantes multinucleadas, com núcleos em vidro fosco e inclusões eosinofílicas (corpos de inclusão tipo Cowdry A) que ocupam até metade do volume nuclear.
TRATAMENTO – depende do estado imunológico do paciente.
Pacientes imunocomprometidos – devem ser tratados com uma duração de terapia mais longa do que a administrada normalmente para infecções menos invasivas pelo HSV. A dose de aciclovir é de 400 mg VO / 5X dia / por 14 a 21 dias. O famciclovir (500 mg três vezes ao dia) ou o valaciclovir (1 grama três vezes ao dia) também podem ser considerados com 2 linha de tratamento.
Pacientes imunocompetentes – A resolução espontânea geralmente ocorre após uma a duas semanas, embora os pacientes possam responder mais rapidamente quando tratados com um ciclo curto de aciclovir oral (200 mg VO / 5X dia ou 400 mg VO / 3X dia por 7 a 10 dias).
Tratamento de pacientes com odinofagia ou disfagia grave – podem necessitar de hospitalização para terapia antiviral parenteral, controle da dor e hidratação ou alimentação. Usa-se aciclovir 5 mg/kg EV de 8/8h por 7 a 14 dias.
PREVENÇÃO – Para pacientes imunocomprometidos, a terapia antiviral pode reduzir o risco de desenvolver esofagite pelo vírus do herpes simplex (HSV). A profilaxia primária que é realizada em pacientes transplantados por um período de tempo após o transplante, reduz o risco de desenvolver doenças causadas pelo citomegalovírus, vírus varicela zoster e HSV. A profilaxia secundária é utilizada em pacientes imunocomprometidos que apresentavam esofagite moderada a grave e permanecem em risco de infecção recorrente.
Radiografia com deglutição de bário de paciente com esofagite por Herpes simplex. Demonstra uma única úlcera aftosa no esôfago distal (seta) em um fundo de mucosa esofágica normal. Outros vírus, como citomegalovírus e HIV, e medicamentos também podem produzir essa aparência. |
Endoscopia superior mostrando múltiplas úlceras superficiais discretas no terço distal do esôfago |